domingo, 17 de outubro de 2010

A Borboleta de Atacama


O televisor mostrava o momento em que o sr. Franklin Lobos, de cinqüenta e dois anos de idade, preso a dois meses numa mina de cobre começava a ser içado para a superfície. Creio que desde a descida da Apolo 11 na Lua, nada mobilizara tanto a atenção mundial quanto este desmoronamento que deixou trinta e tres mineiros presos a setecentos metros de profundidade.

Até chegar à superfície, enquanto a cápsula percorria tal distância por um buraco laboriosamente aberto entre rochas, os reporteres contavam que Franklin, junto de um colega, dirigia um caminhão dentro da mina, e quando ele viu o inusitado de uma borboleta branca tão longe da luz do dia, reduziu a velocidade do veículo para melhor admirarem aquele feito surpreendente e, em sequencia, ocorreu um desmoronamento à sua frente. Não fosse a borboleta e a atenta desatenção deles, isto é, se mantivessem o veículo na velocidade em que era dirigido, certamente estariam soterrados sob toneladas de rocha. Coincidência?

Tudo que se sucedeu no Chile, especialmente o exemplo de respeito, solidariedade e amor ao próximo, inscreveu-se em meu coração e, certamente, no de milhões e milhões de pessoas. Um testamento da verdadeira história da humanidade, ou pelo menos no que se pode acreditar do que seja a nossa história, afinal, o mundo nunca esteve, por toda parte, tão violento, cruel e sórdido como nos dias de hoje.

Ai a borboleta do deserto de Atacama... que maior símbolo, senão o poético, poderia representar tão exemplares e nobres esforços em favor da vida, e nos encher de confiança para com o melhor que temos dentro. O Chile deixou para o mundo uma grande lição de esperança, determinação e equilíbrio em meio a uma luta sem tréguas atrás de um objetivo. Podemos nos orgulhar com aquela nação vizinha, pois a humaninadade retomou o patamar de onde nunca deveria ter deixado escapar, o patamar da civilização.

Jairo Ramos Toffanetto

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