domingo, 24 de abril de 2011

Conto do Sr. Orlando - 2

Mais uma das histórias que meu pai, o Sr. Orlando, contava para mim quando eu era menino:

       Sempre que o Tonho vinha para o centro de Boca da Mata-AL era cercado por conhecidos que gostavam de ouvir suas histórias de assombração. Certa vez, eles seguraram o Tonho até o finzinho da tarde, e de modo que para ele fazer o caminho de volta tinha que passar em frente do cemitério.
      Com muito custo ele conseguiu se livrar dos amigos. Tomou o rumo da sua casa com passos céleres e com a mão direita enfiada no bolso paletó. Todos desconfiavam que havia um terço naquele bolso, afinal, nunca o viram usar o bolso esquerdo.
       Quando ele se aproxima da esquina que dá pro cemitério, da rua em perpendicular ouve passos de salto alto aproximando.
       Tirando o terço do bolso, o Tonho toma coragem para seguir adiante. Para sua surpresa, ele se encontra com uma bela mulher.
       - Boa noite, balbuciou ele.
       Ela nada responde, mas sorri e segue andando do lado dele.
       O Tonho respira fundo e, como era de boa prosa, inicia um conversa qualquer para lhe espantar o pavor que o tomava, afinal, nunca tinha visto aquela mulher na cidade.
       Sentindo-se mais relaxado, pára na frente do portão do cemitério e diz olhando pra a mulher:
       -Sabe, dona, antigamente eu tinha um medo danado de passar em frente do cemitério à noite.
       Assim ela respondeu:
       - Eu também tinha medo quando era viva.
. . .



- Pai, o que aconteceu com o Tonho?
- Nunca mais parou de correr. Ontem eu me encontrei com ele tomando um pingado na Paulicéia* , e foi quando ele me contou este episódio de sua vida. Contou e já saiu correndo.
- E quando ele vai parar de correr, pai?
- Ah, só quando ele alcançar o fim do mundo.
- E onde é o fim do mundo?


- Quem sabe o Tonho nos conta quando voltar de lá.
- Mas aonde ele te encontraria?
- Na Paulicéia, é claro.

 * “Paulicéia” nome de um tradicional confeitaria, depois lanchonete e restaurante no centro da cidade de Jundiaí-SP. No endereço abaixo, a foto do último dia do seu funcionamente antes da sua demolição: 
http://www.flickr.com/photos/39826719@N03/3909340037/ 
A fachada da foto do site acima está bem diferente da imagem que dela guardo da primeira infância até a juventude.



Jairo Ramos Toffanetto

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