quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Carmina Burana, de Carl Orff (André Rieu) - Tão bela a pondo de ofender os deuses?

Carmina caiu do pássaro em que voava para além do céu azul.


Seria Carmina Burana tão bela ao ponto de ofender os deuses? Bela, sim, mas não ao ponto desta ofensa. Quem ofende é Carl Off e a sua falta de humildade, de reverência a algo maior que si próprio, a algo maior que a própria arte.  É o  que sobra com Bach, Vivaldi, Beethoven e tantos outros. A exuberância musical que vem através destes, decorre da bondade, da generosidade. Carmina Burana - linda de morrer - é fruto da vaidade, do egoísmo, da prepotência. É uma paixão, um vício e não uma virtude.

Mesmo sentindo isto, por anos eu a ouvi sem querer saber da letra - um poema medieval. Ouvia o "cd" do mesmo modo como ouvia meus velhos e adolescentes discos de blues e de progressive-rock: era melhor não saber da letra, porque assim eu poderia criar as minhas próprias imagens mentais dentro dos sonhos mais lindos, cheios de uma entusiasmente confiança pela vida. As letras estragariam a música, isto é, não me permitiriam sonhar.

Um dia fui saber da letra, e Carmina Burana caiu do pássaro em que voava para além do céu azul. Hoje eu a vejo como música de fundo em comercial de televisão aonde um rapaz galante mergulha num precipício para salvar um biscoito que caíra das mãos de uma beldade. Também a ouvi ao fundo de Arnaldo Jabor enquanto este espicaçava, com justa razão, o texto da PnDH-3 - Programa nacional de Direitos Humanos. A música criou contornos apocalípticos.

Acredito que "tudo cabe quando a alma não é pequena", todavia, não creio recomendável ouvir Carmina Burana para aqueles que ainda passam pelo jardim de infância da vida.

Letra da composição de Carl Off:

Jairo Ramos Toffanetto

Nenhum comentário: