domingo, 12 de fevereiro de 2012

TUPÃ, o mensageiro de Nhanderuvuçu

Nossos índios sempre tiveram a noção da existência de uma Força, de um Deus superior a todos. Para eles, o Deus da criação é o Deus da luz, e sua morada é o sol. Tupã não é a divindade, mas conotativo para o som do trovão (Tu-pá, Tu-pã ou Tu-pana, golpe/baque estrondante).


Antes mesmo da minha catequese aos sete anos de idade, um conceito de divindade já se havia marcado em meu eu, pois ouvira dizer que os índios chamavam de Tupã tudo o que o existia , desde a água que se bebia, o peixe que se comia, as flores que se via. Assim, pareceu-me estranho quando me pregaram que Deus tinha dois olhos enormes que via tudo o que a gente fazia. Lembro de ver os olhos assustados dos meus coleguinhas. Não via naqueles olhos os olhos de Tupã, e nos da catequicista, os olhos da bruxa malvada. À partir deste fato, eu não levava muito em conta o que me diziam a respeito de religião, mas gostava de ir com meu pai à missa, e aguardava o momento solene em que ele tirava um lenço branco do bolso para nele apoiar um dos joelhos no piso da igreja. Domingo após domingo eu observava que na igreja lotada, ele era o único a dobrar o corpo com apenas um dos joelhos. Outro motivo de atração para o "ir à missa" eram os cânticos e a solenidade dos rituais, o incenso, as cores das vestes mas, além do lenço branco do meu pai, outro momento aguardado por mim era a entrada da luz do sol através dos vitrais da igreja.

Pierre de Ronsard, poeta renascentista francês, escreveu sobre o sol  "Luz de todos, olho do mundo. Se Deus tem olhos, os raios do sol são esses olhos radiosos que a todos dão vida..." Nos dois últimos versos "...sempre em repouso e sempre em ação. Filho mais velho da natureza, e pai do dia."


Para os indígenas, antes dos jesuítas os etnocidarem, Tupã representava um ato divino, era o sopro, a vida, e o homem a flauta em pé, que ganha a vida com o fluxo que por ele passa.

Jairo Ramos Toffanetto

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