segunda-feira, 16 de julho de 2012

Encontrando o último ser humano (crônica)



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Esta história do "passa lá em casa" sempre vem ao final do encontro de amigos ou conhecidos, e depois de calorosos abraços. Sugere a vontade de prolongar a satisfação do encontro, quase uma jura de amor eterno. Um exercício da simpatia em meio à chamada dos compromissos a saldar. Faz parte de um conjunto de delicadezas humanizantes, pois relevam valores no outro, colocando-o "pra cima": "Que bom te ver." "Estou feliz por te reencontrar." "Tudo azul com você?"

Dia destes vi duas pessoas se encontrando na rua.

- Oi "fulana", que bom te ver... passa lá casa pra gente conversar um pouco. "Beijinho-beijinho-thau-thau". Assim ocorreu, e o "sicrano" escapou em passos largos. Nem deu tempo pra outra pessoa dizer nada, só "oi" e pronto, foi despachada, "deletada" com a mesma rapidez de um clique no teclado do computador.

Subliminarmente ele disse ao outro com o tal "Passa lá em casa": "Você me atrapalha, não me enrosque, não me grude, porque não vou perder meu tempo com você, e se passar lá em casa estarei apenas virtualmente e te garanto: com pressa para sair."

Era o que ele gostaria de dizer e, do mesmo modo, a maioria que usam o "passa lá em casa" depoois dos os tapinhas nas costas.

E se a pessoa encontrada fosse o último ser humano vivo no planeta?


Jairo Ramos Toffanetto

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