segunda-feira, 24 de junho de 2013

Murilo Mendes (Poemas) "A Bandeira" e "Teorema das Compensações - em "A História do Brasil"

 
(Para ler os poemas do poeta Murilo Mendes e entendê-los, é preciso ter em mente que é preciso ter conhecimentos da história do Brasil, pois o humor dos textos se baseia em referências e alusões específicos a períodos ou episódios históricos, cujo desconhecimento pode tornar os poemas sem graça ou ininteligíveis.)
 
Escreveu Antonio Carlos Olivieri:
Em a "História do Brasil" (1933), o livro encara a nossa história com o humor iconoclasta da primeira geração do modernismo (embora publicado dez anos após a Semana de Arte Moderna de 1922). A obra cria, "com irreverência e malandragem lírica, o reverso de nossa mitologia cívica", na definição do grande escritor Aníbal Machado (1884-1964).
 
A Bandeira (1933)

Durante meses e anos
Nós furamos o sertão,
Atravessamos florestas,
Desviamos os cursos dos rios;
Nossas famílias também, vão resolutas com a gente,
galinhas, carneiros, porcos,
Tudo aprende geografia,

... Num só tempo procuramos
As esmeraldas enormes
E traçamos, fatigados,
o mapa deste país.

Esmeralda não achamos
Ou achamos, mas sloper.
Não achamos esmeraldas.
Mas o tempo não perdemos:
No fim deste pic-nic
Desenrolamos no céu
A bandeira do país.
Escancaramento dos bastidores do poder:
 
"Teorema das Compensações"
O bicheiro é vereador.
Depende do presidente
Da Câmara Municipal.
O presidente é meio pobre,
Arrisca sempre na sorte,
Ai! depende do bicheiro.

O bicheiro ganha sempre
Na eleição pra vereador.
E “seu” presidente acerta
Muitas vezes na centena.


O poeta mineiro Murilo Mendes, nasceu no dia 13 de maio de 1901 na cidade de Juiz de Fora e morreu no ano de 1975 na cidade de Lisboa, em Portugal. Na década de 20, publicou poemas nas revistas modernistas "Verde" e "Revista da Antropofagia". Publicou seu primeiro livro , Poemas, em 1930, que lhe rendeu no ano seguinte o prêmio "Graça Aranha". Converteu-se, em 1934 ao catolicismo sendo que a religiosidade é um dos temas marcantes de sua produção poética. Morou na Itália, foi professor da Universidade de Pisa e teve seus livros publicados em toda Europa. Foi um dos mais importantes poetas do século XX.

"Poemas" (1930), "Bumba-meu-poeta" (1930), "História do Brasil" (1933), "Tempo e eternidade" - com Jorge de Lima (1935), "A poesia em pânico" (1937), "O Visionário" (1941), "As metamorfoses" (1944), "Mundo enigma" e "O discípulo de Emaús" (1945), "Poesia liberdade" (1947), "Janela do caos" - França (1949), "Contemplação de Ouro Preto" (1954) são suas principais obras.

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