sexta-feira, 14 de março de 2014

- É Gottan City? (Ficção sobre a cidade de São Paulo e "Som Nosso de Cada Dia")

FotoJRToffanetto
(Clique na imagem para ampliar)

 
São Paulo, incrédulo, pergunta:
- É Gottan City?


Saindo do Vale do Anhangabaú, sentido Rio Tietê
(foto tirada de dentro do carro durante um monstuoso engarrafamento)

São Expedito levanta a mão e responde:
- Meu santo, é São Paulo, a cidade.
E São Paulo exclama:
- Será o Benedito?
São Benedito adianta-se um passo e responde:
- Eu não tenho nada com isso, meu santo. Pergunte ao Anhangá**.
- Alguma vez você me viu falando com o Coisa Ruim?
Responde o Benedito:
- Não nestes últimos quatrocentos e cincoenta e nove anos, e é por isto que Anhangá, junto a mil demônios, anda por aí na maior quizumba estética.
- Mas, Benedito, eu gostei na imagem. Tem até a pop-art de Lichtenstein na parede de um prédio...
Assim dizendo São Paulo olha pra baixo a contemplar a "Paula Desvairada" e sua longa barba de quatrocentos e tantos anos cai sobre o Rio Tietê. Os santos riem deles e  dizem:
- Xiiii, fedeu...
Ao levantar a cabeça ele sente que a barba estava presa. Todos correram para o ajudaram. Um pé de vento provocado por Anhangá a levou para o Rio Tietê. Ela estava enroscada nalgum dejeto humano jogado no rio. Seria uma bicicleta, talvez a carcaça de sofá? Mas o que subiu com a barba foi o famoso jacaré do Tietê que pela barba subia abocanhando-a como algodão doce pintado de "roxinho".
- Com mil demônios, exclamou São Pedro ao ver a cena escabrosa.
São Benedito o Paulão com uma tesourada em linha reta à altura do queixo do padroeiro da cidade.
São Tomé exclamou:
- Eu não acredito. E olhando para São Paulo, disse-lhe:
- Com esta sua barbinha, é só subir numa moto e dar uma banda pela cidade que ninguém o reconhecerá.
- Boa idéia, exclamou o santo da cidade!
- Será o Benedito, exclamou São Pedro.
São Benedito inteveio dizendo:
-  Deixa, se ele for, os "amarelinhos" vão multá-lo. Bem feito para ele.
Mas São Paulo estava inconformado. O cheiro do Rio Tietê não saia do seu nariz.
- Querem saber de uma coisa? Vou por minhas barbas de molho

São Paulo cheirava inconformado o que lhe sobrara de barba enquanto o céu da cidade se fechou temerariamente sobre a cidade. Uma chuva pesada caiu sobre a cidade enquanto São Pedro, inconformado, rugia mil trovões. Tudo bem que isto lavou o Tietê, mas muita lama entrou nas casas e São Paulo começou ser xingado, mas ele, como de costume, não deu muita importância e, depois de tanto cheirar a barbicha que ficou, colocou-a de molho.

São Pedro bronqueando a falação dos santos, muito "nervético", mandou uma tromba d'água sobre a cidade enchendo casas de lama. São Paulo, para não ouvir os xingos da sua população, colocou um rock bem alto, e todos os santos começaram a pular como cabritos. São Pedro vendo o inferno na terra e a festa no céu. Rugiu como um trovão pra eles e instou o padroeiro:


- Paulinho, faça alguma coisa pela sua cidade?
- Não posso, meu santo, nunca te contei, mas perdi a chave da cidade no Rio Tietê. O Rio foi dragado várias vezes e nunca acharam a chave pra mim. Ninguém sabe, mas te confesso que até pro Anhangá eu pedi.
- Agora entendi porque sempre te achei muito estranho. O Anhangá te deixou doente do espírito, e daí o fato da sua cidade ficar do jeito que está.
- Gosto daqui.Do "Som Nosso de Cada Dia"
- É a Babilônia perseguidora dos homens de boa fé.
- Seu nome agora não é mais Babilônia, São Pedro. É Balbúrdia, a Grande Balbúrdia, e cabe aos ribeirinhos do rio tomarem conta da sua cidade.
Isto calou São Pedro.


* Originário do tupi-guarani, Anhangabaú vem de anhanga-ba-y, que significa rio dos malefícios do diabo. Os índios acreditavam que as águas do riacho Anhangabaú provocavam doenças físicas e espirituais.
** Anhangá
Um dos mitos mais antigos do Brasil. Para os jesuítas que chegaram aqui no Brasil, Anhangá era considerado uma figura maligna, comparado com o demônio da teologia cristã.

Inicialmente conhecido como Rio das Almas, o rio Anhangabaú era muito temido pelos indígenas da região. Os índios acreditavam que suas águas traziam doenças ao corpo e ao espírito. Essa crença leva a suspeita de que suas águas não eram potáveis.

Teodoro Sampaio, historiador brasileiro, escreveu em uma de suas publicações que o rio era considerado pelos índios como "bebedouro das assombrações".
** Diabo
 JRToffanetto
 

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