terça-feira, 2 de setembro de 2014

“POESIA DÁ BRIGA EM VILA ARENS” (JRToffanetto)

(História ficcional mas... bem a propósito)




Certo que muitas histórias lindas e de valor inestimável para a evolução da humanidade estão ocorrendo a cada instante, espontaneamente, na simplicidade do eu natural, por aqui mesmo, lá Cochinchina...

Pergunto-me o que fazemos diante dos jornais, da televisão, da internet? Assistir carrascos encapuzados executando inocentes na Palestina, no Iraque, ou por aqui, no meio da rua a troco de banalidade?

Todo mundo sabe destas histórias e se você alega desconhecimento te perguntam em que mundo você vive. Respondo-lhes que vivo num mundo bem melhor que o destas histórias de arrepiar.

Hoje mesmo, na fila do supermercado, quieto comigo mesmo, convidaram-me para se juntar à indignação diante do episódio em Porto Alegre aonde um Pai matou o filho, uma criança.

Pra mim, são conversas, histórias pra boi dormir. Procurando desconversá-los, a propósito de uma leitura recente, perguntei se algum deles tinham lido o  poema “A Pavorosa Ilusão” de Bocage.

- Ah tá, poesia, né?

Respondi à ironia do desprezo para com os poetas:

- Não creio que ela seja do meu entendimento por poesia, mas um belo poema lírico, isto sim, e de tantas verdades desnudas que...

- Ce tá brincando... esta coisa de poesia está fora da realidade. Coisa de “larai”.

- O contrário é que é o verdadeiro. Leia  o poema de Bocage que te recomendei, quem sabe lhe sirva pra alguma coisa.

Ficaram pasmos. Um deles bufou como a se segurar para não avançar contra mim, mas um outro desconversou perguntando dos jogos do campeonato brasileiro para a quarta-feira e todos se voltaram para ele e, finalmente, esqueceram-se de mim.

Mas... ah se me perguntassem sobre  “A Pavorosa Ilusão”. .. Não que eu esperasse por isto, magina!.. Dissessem-me um simples “porque?” e eu lhes teria respondido:

- Olha, se o poema de Bocage foi bom para a doce Marília, quem sabe possa ser bom para vocês também.

Naturalmente não fizeram a tal pergunta, pois certamente teríamos virado notícia de jornal. Já imaginaram uma manchete assim:

“CRIME EM PORTO ALEGRE X POEMA DE BOCAGE LEVAM VALENTÕES PARA A DELEGACIA DE POLÍCIA” ou “POESIA DÁ BRIGA EM VILA ARENS”

Duzentos anos depois da morte de Bocage... Na internet haveriam ensaios com os mais variados títulos:  

“BOCAGE E SANGUE”, ou “AINDA BOCAGE, DOA A QUEM DOER”, ou “BOCAGE POR BOBAGEM”, ou ainda “BRIGA POR CAUSA DA MARÍLIA DO POETA LUSO”.

JRToffanetto

 

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