sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Minha nova extra identidade



Quando jovem a gente dava um duro danado para se parecer mais velho, mas nos meus redondos sessenta anos de idade, faço questão de prevalecer meus cabelos cada vez mais brancos, especialmente quando estou em um banco. Não estou dizendo dos bancos da praça, ou daqueles banquinhos aonde os velhinhos se assentam na frente das casas vendo o navio passar enquanto de soslaio correm olhos perversos nos bumbuns das mocinhas, e estas olham para eles se lembrando do vovô. Digo das agências bancárias.

Lá eu me livro do incômodo da espera. Sou quase prontamente atendido, e com a rapidez que todos merecem nestes lugares mais silenciosos que o sepulcro à espera de todos. Só não me dou bem com os assentos de capinha no encosto aonde vem escrito “pessoas idosas”, porque de sentado para deitado é só um passo e no próximo basta enterrar.

Nunca fiz questão destes assentos, pois além de ser novo nesta idade, não tenho nenhuma vocação pra mortinho, e como “preferencial” logo sou chamado... afinal, tudo o que muita gente pode estar precisando é o de se livrar do estresse do dia, recuperar um pouco do fôlego normal ou até se livrar de algum mau estar digestivo, p.ex..

Hoje entrei num banco de pequeno espaço físico, muito comuns hoje em dia, talvez até para desviar atenção de assaltantes. Esqueci-me da “senha preferencial” e para alcançar o melhor lugar em pé cruzei um estreito corredor onde havia meia dúzia de assentos, talvez um pouco mais. Pela primeira pessoa que passei ela logo foi se levantando para, muito gentilmente, dar-me o lugar. Disse para ela que estava indo pra frente do caixa, agradecia-a e segui, e mesmo não sentindo nenhum problema com minha nova idade fui, então, perguntando-me “Que idade aquela pessoa me dava?”


Ao alcançar o lugar desejado, um rapaz se levantou para me dar o assento. Vi escrito no encosto da cadeira “pessoa idosa”. Disse a ele “Obrigado, você é muito gentil, mas estou bem, assim”. Enfim, minha idade extrapolou a “cédula de identidade”, personificou-se na identidade de velhinho, ainda que e eu, apesar da crescente calvície não me sinta faltar um único fio de cabelo.

JRToffanetto

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