domingo, 26 de abril de 2015

O “coió”, o meu avô e o burro


Tela de Fancisco Rebolo










O “coió”, o meu avô e o burro


Em uma roda de falazes, alguém ridicularizava a gente do interior do estado imitando o seu modo cantado no dizer das coisas. Num dado momento, um deles disse ver em suas andanças um dito “coió” rolando um sabugo de milho na parte interior do pé. Ao perguntar para o caboclo porque ele pisava daquele jeito sobre o sabugo, disse ele que era para tirar a dor nas costas, e todos riram da (pseudo) ignorância do “caipira”. Mas... olha se não há semelhança com o DO-IN praticado no Japão! Em roda de beócios (leia-se) coiós) eu não entro.

Meu pai conta a história de que certa vez trouxeram um burro para o meu avô curar. Pois ele conversou baixinho junto à orelha dele, e os que o acompanhava disseram que devia ser  uma reza poderosa. Depois segurou sobre o "cobreiro" do animal um pano embebido com certo chá de ervas ainda morno. Assim feito, pediu ao dono que largasse o animal na mata cerrada e fosse procurá-lo sete dias depois.  O burro foi encontrado sem o mal que o acometia. Acredito eu que por primeiro ele se reintegrou à natureza e, depois, buscou a própria cura, mascou algumas folhas que só ele sabe reconhecer . Estou dizendo de uma medicina ayurvédica dos animais? Sim, estou.

Como é que meu avô, filho de italianos – o seu pai era professor -, poderia saber tanto dos animais?  Creio que ele fez como o burro. Integrado à lavoura, à natureza, e buscando soluções para os problemas comuns que enfrentava chegou a um conhecimento incomum. Pois é, ele o burro sabiam das coisas.

Nas pessoas, nos animais, nos barrancos e terrenos baldios da cidade existem coisas a desafiar nossa pretensa sabedoria e outras que nem sonha nossa imaginação. É preciso aprender com o burro.

JRToffanetto

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