quarta-feira, 29 de julho de 2015

Porque não a beijei nos olhos



Com o meu carro na oficina, fui ao trabalho de bicicleta sentindo a aragem fresca da manhãzinha sem exigir mais que uma jaqueta de algodão sobre camisa e pulôver. Como medida de segurança eu ia pela calçada, afinal a marginal do Rio Jundiaí na cidade é em prolongamento de uma estrada intermunicipal e área de transito congestionado, nervoso. 

Parei à espera da saída de pessoas de um trólebus estacionado à minha frente. As pessoas sentadas do lado das janelas estavam com os olhos atirados pra fora. Mirei-os atentamente. Eles não olhavam para lugar algum, isto é, pra nada em específico, pareciam de vidro, e isto me proporcionou um sentimento algo ficcional: Gente sonambúlica indo ao trabalho em autômato. 

Ao subir a Av. Américo Bruno parei para ver a panorâmica da cidade Maysbel com a Serra do Japi ao fundo. 
O sol puxava a coberta de Mays enquanto o joão-de-barro fazia a vez do galo. Com extrema delicadeza, chamavam-na do seu sono de pedra:

- Acorda Mays! A-COR-DA!!! deste seu sono sonhado. É a Poesia.
 Só mais tarde Maysbela saltou da cama. O café ela não tomou. O dia colorou. Seus olhos de vidro ficou. Perdeu a manhã, o café, as cores. Trabalhou trabalhou trabalhou e nem soube quem a amou.

Porque não a beijei nos olhos? Seus olhos eram de vidro.

JRToffanetto




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