quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Herói Sem Medalha - Lucylla e Lucyana


Fernando J.Colin, gentil colaborador musical deste blog, deu-me um desafio: dizer-lhe minhas impressões sobre a música sertaneja “Herói Sem Medalha”, e eu, entrevendo o brasileiro original, decidi criar um texto, pois temo que o brasileiro vem perdendo a sua identidade diante da globalização (diferente de aculturação) em massa pela qual passa mas que para o Fernando “isto se recupera”.

Sinto o sertanejo “Herói Sem Medalha” como o cantar da percepção original do mundo físico e humano através de versos a transcender a ação do imponderável sobre o herói de si mesmo, e este, sem fugir da realidade, abandona a mítica pedra de Sísifo. O rigor do incontrolável não o solapa.
Mostra que o caboclo tudo pode enfrentar e suportar no seu ambiente ou fora dele desde que os sentimentos que o constituem não sejam ameaçados, ou melhor, quando em excruciante angústia do cruel embate, agiganta-se seu universo individual e rompe o limite do mundo real a  estrangular a pureza do seu estado de ser e estar. Fiel a si mesmo e à força do particular regional que o constitui, nega e ultrapassa o trágico por largar a pedra do fantástico semideus grego. Prevalece a dignidade própria, o ser humano e sua delicadeza de sentimentos.

Enfim, “Herói Sem Medalha” é um mergulho na natureza da nossa gente de caráter suave, enternecedora, honrando os valores que o constitui, e mesmo em aculturação com o novo – a cidade – continua aberto às fábulas e aos contos extraordinários. (JRToffanetto)

Compositor: Sulino

Sou filho do interior
Do grande Estado mineiro
Fui um herói sem medalha
Na profissão de carreiro
Puxando tora do mato
Com doze bois pantaneiros
Eu ajudei desbravar
Nosso sertão brasileiro
Sem vaidade eu confesso
Do nosso imenso progresso
Eu fui um dos pioneiros

Vejam como o destino
Muda a vida de um homem
Uma doença malvada
Minha boiada consome
Só ficou um boi mestiço
Que chamava Lobisome
Por ser preto igual carvão
Foi que eu pus esse nome
Em pouco tempo depois
Eu vendi aquele boi
Pros filhos não passar fome

Aborrecido com sorte
Dalí resolvi mudar
E numa cidade grande
Com a família fui morar
Por eu ser analfabeto
Tive que me sujeitar
Trabalhar no matadouro
Para o pão poder ganhar
Como eu era um homem forte
Nuqueava o gado de corte
Pros companheiros sangrar

Veja bem a nossa vida
Como muda de repente
Eu que às vezes chorava
Quando um boi ficava doente
Alí eu era obrigado
Matar o rês inocente
Mas certo dia o destino
Me transformou novamente
Um boi de cor de carvão
Pra morrer nas minhas mãos
Estava na minha frente

Quando eu vi meu boi carreiro
Não contive a emoção
Meus olhos encheram d'água
E o pranto caiu no chão
O boi meu reconheceu
E lambeu a minha mão
Sem poder salvar a vida
Do boi de estimação
Pedi a conta e fui embora
Desisti na mesma hora
Dessa ingrata profissão

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