segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Um homem, uma flor no banco da praça, e uma emoção (crônica do sentir)




Um homem sentado num banco em frente ao Hospital São Vicente de Paulo. Banco que também ampara uma flor dos jardins da praça. Eu sei, ele aguardava o horário de visitas, mas o que eu não sabia até hoje era o que dizer, talvez porque na linguagem do sentir não existam palavras.

Súbita imagem que se guardou em mim e, depois, salva em "minhas fotografias". Embora mais de uma vez a tenha postado neste meu "Poemas de Sol", sempre me vi desafiado a expressar o instantâneo daquela emoção seguida do fotografar, um presente. Três dias antes do Natal e, subitamente, revejo-a ao procurar alguma imagem que saltasse me chamando.

...observando o portão de entrada, o homem cruza os braços a se proteger da movimentação do local. A metade do seu pé esquerdo fora da guia diz indica para aonde ele vai, diz que ele chegou a pouco, mas o bastante para inclinar a perna e o pé em descanso e também relaxar o outro pé, tirando o peso, deixando-o plantado, esquecido, e a meio caminho do se levantar ao que se seguiria.

Pela distância física entre ele e a flor, não me parece ser ele quem a arrancou do jardim. Haviam razões para ela estar assentada ali. No meu caso, p.ex., sem ela talvez eu passassem por eles às cegas. Um está  em companhia do silêncio do outro, e ambos em doação de si próprios. Ela com a beleza e ele com seu coração a ser entregue ao visitado no hospital.

O encanecer dos seus cabelos o roçam na idade do eterno. Um homem tão grande e de delicadeza ainda maior. A tirar por ele, o visitado é do mesmo tamanho. 

Somos frágeis e delicados por mais fortes e destemidos que sejamos. Somos seres em evolução, infinitamente em evolução, em aprimoramento do "eu".

Sou-lhes (visita e visitado) amigo sem nunca antes termos nos visto frente a frente. Até hoje sinto meu coração abraçado ao deles.

JRToffanetto

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