quarta-feira, 22 de junho de 2016

HOMENS, SANTOS E DESERTORES (meu parecer sobre)




Em razão de ficar perto do Yuri (filho mais velho), segui-o em suas duas últimas idas pra Sampa. Pois ele, sistematicamente tem ido às apresentações teatrais de Mário Bortolotto no seu Bar Café Teatro “Cemitério dos Automóveis” há cem metros do Shopping Frei Caneca. Vi insuspeitos tipos urbanos serem dissecados, desmontados no palco, antropofagicamente devorados até nada restar, nem o tutano da ossada.

Na primeira delas, “Homens, Santos e Desertores” personifica a atemporal e sempre áspera realidade da qual poucos se dão conta ou escapam. Atores conectados com causa e efeito do inteligente fio da trama, vivem sentimentos que não se sustentam por se firmarem em verdades pessoais decorrentes de experiências mau resolvidas no passado, somatizadas ao longo, adoecidas pelo tempo. Esta purulenta ferida sem cura, impede o desenvolvimento psicoemocional dos personagens, levando-os ao reconhecimento da excruciante da tragédia de si mesmos e... BANG.

A peça termina mas deixa aberto para outras interpretações possíveis por evidências em subliminar, como a de um único personagem em duplicação no palco, ou a de, no fim das contas, tratar-se de pai e filho, e daí novas percepções e até novas soluções como o Yuri e eu tiramos.

Inusitado, pelo menos para mim, a concepção de abrir e fechar cenários apenas com spots entre relâmpagos de total escuridão para novo reposicionamento dos atores no palco, como recortes de volta à costura, assomando novas expectativas do desenrolar de mesmo tecido.

O protagonista interpretado pelo próprio autor/diretor Mário Bortolotto, suicida-se ao fim do escuro premeditadamente mais longo que o esperado, abrindo sutilmente o suspense, sobrepesando o choque do inesperado.

Seus rituais diários não o acodem do confronto consigo próprio. Atira no breu de toda uma existência fechada para novas razões, no condenado a arrastar o peso de si mesmo, e até na recusa do olhar par além de si próprio, ao encontro do outro.


Outro dia eu continuo contando sobre esta peça e talvez sobre a outra "Postcards Atakama. 

JRToffanetto

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